domingo, 7 de junho de 2009

Trabalhando com um Down Idoso

Estava eu, Sônia, na academia onde eu trabalho dando aula de natação, com qualquer outra segunda, quarta e sexta. Eis que me aparece uma senhora, por volta de 50 anos de idade, acompanhada de um senhor. Logo notei as características de um portadorde Síndrome de Down nele, mas achei estranho, pois até então sabia que era raro um Down chegar a uma idade avançada por conta de limitaçṍes do organismo. Eles esperaram que eu acabasse a aula pra conversamos. A mulher, que na conversa relatou que é vizinha do senhor e é quem cuida dele por ausência da família. O próprio homem se apresentou como Ademar, disse ter 66 anos e, com a comum dificuldade na fala, disse que gosta muito de assistir natação e outros esportes na TV, mas nunca praticou. Expliquei sobre a questão de horários, preço e exame médico. Tinha visto o caso como um novo desafio, até que na aula seguinte (dois dias depois), lá estava Ademar, com seu roupão, sunga, toalha... com uma feição mista de alegria, ansiedade e nervosismo. Iniciei os alongamentos e aquecimento, era difícil acreditar que o senhor nunca tinha tido contato numa aula de natação – ele não tinha receio de dar mergulhos e braçadas, me chamou a atenção logo de início. Quando comecei a aula instruindo meus outros alunos a ir e vir 10 vezes no nado livre, o ensinei a posição de braços e pernas para poder dar suas braçadas e pernadas de forma correta. Antes mesmo de eu terminar minhas instruções, ele já nadava feito um peixinho na água. Incrível. Com 10 aulas ele já era o melhor da minha turma e não me contive em apresentá-lo a AEE (Associação de Excepcionais Esportistas), pois a desenvoltura e rapidez dele eram excelentes. Um campeonato estadual estava se aproximando – seria dali a dois meses. A notícia do novo “fenômeno” se espalhara. Os patrocínios começaram a aparecer, estávamos muito felizes. Meus alunos antigos, sem sua maioria da categoria Infantil, e Ademar, na categoria de excepcionais, competiriam e, provavelmente se sairiam bem.
Eis que surge um problema: o custo do patrocínio pra ele seria maior, pois havia gastos com remédios, maior atenção de médicos, tempo disponível na piscina e na sala de musculação. Com minhas contas, percebi que estava diante de um dilema, já que o patrocínio que tinha seria ou para Ademar competir ou o resto das crianças – não era possível levar todos: então quem levar para a competição? O fenômeno idoso com síndrome de down ou meus alunos de anos de dedição?
Autoras: Marília Novaes, Vivian Souza e Marília de Moraes

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